Apenas uma pequena sombra na Terra

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Palavras não ditas ao vento


Outra arte incrível de algum artista desconhecido.
As palavras não ditas ao vento são sentimentos apenas expressados para a alma. Conturbados e sensíveis, portanto, incontroláveis. Mas ela não percebia isso enquanto caminhava pelas ruas em silêncio com a mente perdida no futuro impossível de seu presente deprimente. Tampouco se deu conta de onde se encontrava e com quem acabara de se esbarrar. Apenas com a visão trêmula do canto dos olhos e a inalação rápida do perfume forte no ar junto ao toque daquela pele quente, em combinação com o aguçamento rápido de seus sentidos fazendo suas pupilas dilatarem, causando tremores em seu peito pelo rápido palpitar de um órgão feio e pulsante posicionado mais ao lado esquerdo e erroneamente associado ao amor. Apenas com isso, ela percebeu o que estava acontecendo.
E no momento em que seus sentimentos fizeram o oposto do que a maioria dos sentimentos costuma fazer: se alinhar gradativamente em ordem de intensidade e compreensão se acalmando e se expressando individualmente e depois em uníssono dizer com todas as letras aquilo que fora óbvio desde o início. Neste momento, fizeram com que essa revelação boba fizesse sua ingenuidade rir de si mesma. Da mesma forma quando alguém entra no banheiro com a luz já acesa, mas o instinto faz com que aperte o interruptor com a intenção de acender a luz – que já estava acesa – fazendo com que ela se apague, e ao se dar conta disso e acendê-la novamente, a pessoa se sente completamente boba e ri de si mesma.
Algumas pessoas poderiam dizer que ela agiu deliberadamente, porém, algumas pessoas não fazem ideia do que “deliberadamente” significa. Muito menos a garota, pois a ação que se seguiu poderia ter sido clinicamente evitada caso ela não tivesse sido escolhida, dentre muitos, pelo acaso, para habitar esse grande circulo de ignorância chamado de “algumas pessoas”. Portanto ela não apenas pagou pela má sorte de se expressar histericamente no momento errado, como também causou um olho roxo por não ter agido de forma calculada, e logicamente por ter uma péssima coordenação motora, pois, quando tentava gesticular ferozmente acertou com o polegar direito o seu dedo indicador esquerdo, que instantaneamente enviou um sinal para que os dedos próximos se fechassem rapidamente, acelerando a movimentação de seu punho e o enviando diretamente no olho daquela outra pessoa.
No restante do dia ela se lamentou pela vergonha, mas algo dentro dela estava diferente. Sua alma se sentia mais leve.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O tragicômico humor do universo em um dia qualquer



Arte incrível de alguém desconhecido mas que me intrigou.
Há situações engraçadas na vida onde o universo começa uma piada disfarçada e a termina de forma tragicômica e altamente forçada. Talvez mais cômica do que trágica...
Como aconteceu na vida de uma pessoa que vocês nunca ouviram falar. Ela é normal. Gente boa, quieta e normal. Nunca procurava por objetivos e nem se incomodava em pensar nisso. Tudo estava bom, e ela se sentia bem normal. Normal a ponto de se entediar com a normalidade de seu cotidiano e resolver tentar mudar isso, da sua própria forma é claro, que não deixava de ser muito normal. Normalidade à parte, ela resolveu definitivamente que iria fazer algo para mudar sua rotina. Pois até então, nunca reclamava, nunca impunha sua opinião, não fazia perguntas, nada – o que apenas prova que ser normal é realmente um saco. E isso é só o que vocês precisam saber sobre ela.
Então em uma tarde incomodamente quente no trabalho, ela se levantou e foi em direção à caixa de sugestões/reclamações/elogios/denúncias/informações, pegou a caneta, o papel com linhas irritantemente pontilhadas para se escrever sobre, pensou durante três minutos, e escreveu.
“Se as pessoas devessem menos do que deveriam dever, um mundo sem dívidas seria uma dádiva divina, onde deveres não se dividiriam em pequenas divindades depravadamente duvidosas. O que devemos fazer?”
A mocinha do RH quando pegou sua sugestão, naquele final de tarde agora um pouco menos incomodantemente (tenho dúvidas se isso existe) quente, o leu, releu, parou, pensou, leu novamente, se perdeu em pensamentos, voltou a se concentrar naquela ideia e depois de três minutos, tomou uma decisão.
No dia seguinte ela se demitiu do emprego, raspou a cabeça, viajou pelos sete mares, entrou de corpo e alma em uma nova filosofia de vida, se mudou para uma caverna no alto de uma montanha, passou a fazer pequenas refeições diárias, aprendeu a meditar, a lutar no estilo louva-a-deus, deu nome a uma pedra, aprendeu a sorrir ao invés de criticar, e quando alcançou uma idade avançada, olhou para trás, e para tudo o que havia deixado e comparou com tudo o que havia conquistado depois daquele dia fatídico em que lera a sugestão. Pensou, analisou, voltou a pensar, e depois de três minutos, sorriu, deitou-se, e morreu enquanto dormia. Não devia nada a ninguém.
A pessoa em questão (aquela que você não conhece) só soube de tudo isso, pois, muitos anos depois, – ainda vivendo muitos momentos de normalidade – leu o livro fruto da real história daquela mocinha.
Após ler a própria sugestão – que nem ao menos se lembrava – parou para pensar e fechou o livro, olhou para o céu, pensou novamente, sorriu para o vento, pensou no seu passado, voltou a se concentrar naquela sugestão indagadora, e após três minutos reabriu o livro e voltou a ler. Aquela foi uma agradável tarde de primavera. O chá nunca estivera tão reconfortante.
E eu aposto com todas as minhas incertezas e medos de que se o universo pudesse rir ele teria uma gargalhada medonha para momentos como este, porém inaudível para as pobres almas humanas que são vítimas de suas piadas.


Hoje faz 15 anos que Douglas Adams pegou a rota para O Restaurante no Fim do Universo e nunca mais retornou, pois provavelmente foi raptado "acidentalmente" por algum sofá de mau humor... Mas não antes de nos agraciar com todo o seu conhecimento sobre A vida, o Universo e Tudo mais. Esse texto é em homenagem ao gênio inigualável da ficção científica cômica. 
Até mais, e obrigado pelos peixes.

domingo, 8 de maio de 2016

Procrastinando entre delírios e divagações

Eis um vislumbre de como funcionam meus pensamentos (pelo menos a parte que eu acho que consegui entender): Eles geralmente são bombardeados com imagens e situações logicamente imaginativas, e de caráter improvável, de possibilidades de discursos ou situações engraçadas, que, poderiam ocorrer – ou não – se eu tivesse mais ação do que imaginação (que irônico!). E após ela – minha imaginação – me fazer pensar incontavelmente em várias versões de um mesmo fim, com muitos meios e nenhum começo coerente, ela escolhe os melhores (e mais engraçados) e os esconde em algum canto sombrio perto do crânio (provavelmente perto do meu gosto secreto por macaquinhos de pelúcia usando brincos com formatos de banana). E me faz esquecer completamente sobre o que eu estava pensando. Alguns meses depois eu me pego pensando nas mesmas situações e imagens cômicas (sem saber que já havia pensado nelas) e então ela absorve tudo e mistura de forma clínica, formando melhores combinações e melhorando os resultados. Então em um belo dia enquanto estou fazendo algo rotineiro (como encarar avidamente a água fervente do café prestes a borbulhar) meu subconscientemente (até que se prove o contrário) alcança aquele canto sombrio perto do meu crânio, provavelmente utilizando algum tipo de artimanha esquecida, e de repente sei exatamente o que dizer para tal situação, da melhor e mais cômica forma possível. E é nessa hora que eu também costumo fazer uma cara de espanto, pois ao mesmo tempo eu me lembro daquele meu gosto possivelmente estranho, porém secreto, que se esconde perto daquele canto sombrio próximo ao crânio... Enfim. É mais ou menos assim que funciona. Eu nunca consigo controlar e possivelmente nunca poderei explicar como consegui pensar nisso tudo (que eu acabei de dizer logo acima) em menos de 30 segundos enquanto estava mijando (é exatamente essa palavra que eu gostaria de usar, mesmo o corretor de textos tentando inutilmente me fazer mudar para algo mais “bonitinho” como “fazendo xixi").

Aqui um blog poético de um amigo mexicano: Asilo de Letras

domingo, 1 de maio de 2016

Devaneios de um velho espírito


Sua vida fora como um sonho lúcido: intenso, emocionante e curto, porém, extremamente real.
Ao seu próprio modo ele costumava ser um cara de pequenos prazeres. Como quando o vapor de uma xícara de café subia quente aos seus olhos e embaçava as lentes sujas dos seus óculos de armação grossa, e então, ele sorria e esperava calmamente que se dissipasse, enquanto que por poucos segundos esquecia-se de onde estava. Ou quando uma conversa interminável entre duas pessoas, a quilômetros de distância, o fazia ter esperanças de que era possível se apaixonar apenas pelo modo de pensar de outro ser humano e que nada mais importaria. E que aquele simples sorriso gentil de um estranho cruzando seu caminho em uma avenida lotada, significava que eram espíritos amigos de longas datas felizes em se ver novamente, mesmo que brevemente.
Era isso que o fazia feliz.

segunda-feira, 25 de abril de 2016



Ela sente constantemente que está procurando o que não precisa. A pressão sobre os ombros é tão forte quanto à máscara grossa e trabalhada qual já mantém em seu rosto por tanto tempo. “Não sou eu” é o que ela pensa. Sua mente borbulha em um turbilhão de pensamentos conflitantes. “Não consigo respirar” é o que ela não diz. Sente que está à beira de desistir de tudo. De fugir. De mudar. De Sumir.
“Eu não me possuo o tempo todo” são as palavras amordaçadas pelos nós de suas cordas vocais. “Às vezes eu me deixo sair e me perco. Fico fora de controle. Sozinha. Desnorteada.” Um choque forte de realidade talvez seja o que ela precise. Como se alguém de repente a puxasse pelo braço, e distraída, ela fosse tragada de volta ao universo de onde uma vez partiu e então tudo faria sentido novamente. “Eu estaria finalmente segura.” Não. Não estaria.
Às vezes ela observa atentamente seu reflexo em poças d´água. “É como ver outro eu. É assustador. Assustador a ponto de me diminuir.” Ela se sente impotente. Sente que está diante de uma onda colossal em alto mar que se forma perante o lusco-fusco do fim do dia, e o som de seu farfalhar é tão amedrontador que tudo se torna sem som. Lacrada dentro de sua mente e forçada a ser a única telespectadora de seu próprio fim. Amarrada e silenciada. Obrigada a apenas assistir e aguardar. “Então eu deixo de existir e só espero com que ela me destrua. Estou nua diante de tudo. Da verdade.” Tão vulnerável que qualquer toque com leveza e carinho tem a força de uma marreta arremessada em um vitral vitoriano, que um dia foi imponente com suas cores e brilho único, que encantaram, fascinaram, amedrontaram, persistiram e agora se encontram estilhaçadas ao chão junto à poeira, o mofo e os ratos.
As pessoas são os melhores poemas para serem apreciados sozinhos.