Ela sente constantemente que está procurando o que não
precisa. A pressão sobre os ombros é tão forte quanto à máscara grossa e
trabalhada qual já mantém em seu rosto por tanto tempo. “Não sou eu” é o que
ela pensa. Sua mente borbulha em um turbilhão de pensamentos conflitantes. “Não
consigo respirar” é o que ela não diz. Sente que está à beira de desistir de
tudo. De fugir. De mudar. De Sumir.
“Eu não me possuo o tempo todo” são as palavras amordaçadas pelos
nós de suas cordas vocais. “Às vezes eu me deixo sair e me perco. Fico fora de
controle. Sozinha. Desnorteada.” Um choque forte de realidade talvez seja o que
ela precise. Como se alguém de repente a puxasse pelo braço, e distraída, ela
fosse tragada de volta ao universo de onde uma vez partiu e então tudo faria
sentido novamente. “Eu estaria finalmente segura.” Não. Não estaria.
Às vezes ela observa atentamente seu reflexo em poças d´água.
“É como ver outro eu. É assustador. Assustador a ponto de me diminuir.” Ela se
sente impotente. Sente que está diante de uma onda colossal em alto mar que se
forma perante o lusco-fusco do fim do dia, e o som de seu farfalhar é tão
amedrontador que tudo se torna sem som. Lacrada dentro de sua mente e forçada a
ser a única telespectadora de seu próprio fim. Amarrada e silenciada. Obrigada a apenas assistir e aguardar. “Então eu deixo de existir e só espero com que
ela me destrua. Estou nua diante de tudo. Da verdade.” Tão vulnerável que
qualquer toque com leveza e carinho tem a força de uma marreta arremessada em
um vitral vitoriano, que um dia foi imponente com suas cores e brilho único,
que encantaram, fascinaram, amedrontaram, persistiram e agora se encontram
estilhaçadas ao chão junto à poeira, o mofo e os ratos.
As pessoas são os melhores poemas para serem apreciados
sozinhos.
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